O Lixo é Vestível?

Ainda no âmbito da Semana Europeia do Combate ao Desperdício Têxtil, a convite da Câmara Municipal da Póvoa De Varzim, onde tive a oportunidade de moderar um painel com o tema: “Sustentabilidade na Têxtil”, convidei duas marcas portuguesas que já olham o resíduo (aka lixo) como uma oportunidade. Tive como convidados o Alexandre Nardin da NOWA Jeans e o Manuel Machado a POTO.

Antes dos meus convidados intervirem, apresentei alguns números.

  • os Portugueses deitam foram 200 toneladas de roupa por ano

  • Em média o consumidor usa uma peça de roupa apenas 7x antes de deitar fora.

E Porquê?

  • porque compramos barato

  • temos menos conexão com as peças

  • descartamos mais cedo.

E depois?

Acabamos por ter a falsa sensação de segurança, de que colocar o vestuário em contentores de doação é BOM. Mas grande parte termina em aterros em outros países.

A verdade é que Menos de 1% das roupas são recicladas e 2% é perdido do processo. Porque os Modelo de Negócio MODA está mal desenhado. O Lixo é um ERRO de DESIGN.


Como é que as marcas portuguesas estão a combater o resíduo têxtil?

A POTO pertence a uma indústria têxtil. Produzem 2% a 5% de vestuário a mais considerando que haverá erros de produção. O vestuário que sobra é transformado em novos produtos por via do upcycling.

A NOWA Jeans usa o desperdício têxtil gerado na produção de Jeans, desenvolvendo novo fio. O Alexandre acredita que mostrar o produto “como lixo” não é benéfico para a marca. “Ninguém quer vestir lixo”, por isso esse tipo de comunicação também não é vantajoso para o consumidor final, que muitas vezes sente-se culpado pela compra.

A Vereadora do ambiente destacou o projeto "Reciclar para Ganhar”. Uma máquina de Resíduos que dá benefícios financeiros para promover a mudança. Em troca da separação do resíduo o cidadão poderá receber acesso ao parque gratuito ou a um vale para gastar no mercado.

Fiquei feliz pelo exemplo, porque na palestra com Pedro Palha da marca ISTO.PT falamos precisamente sobre isso. A necessidade de premiar o cliente que FAZ BEM. Dando um incentivo “financeiro” por fazer um consumo mais consciente.

Silvia Gomes da Costa, reforçou ainda que o cidadão têm vindo a ser sensibilizado para a separação de resíduos, mas tudo isto implica uma alteração de comportamento.

Na dificuldade de ver implementado estes projetos, a Vereadora reforçou que a penalização infelizmente ajuda a mudar. Seja por via de multas, seja pela recolha porta a porta (obrigatório). Salientando que funciona melhor do que a recolha voluntária.

Já o Alexandre terminou a indicar que acredito que o melhor movimento acontece quando nos sentimos “COOL” e ORGULHOSOS porque fazer o bem. Mas para isso as marcas terão de Investir bastante em comunicação para a mudança acontecer.


Que soluções existem hoje em Portugal?

  • Hoje, o circuito do resíduo têxtil só está montado para pré-consumo. Mesmo assim há falhas, muitas indústrias não sabem a quem recorrer e colocam o resíduo industrial no circuito urbano. Criando um problema enorme para as câmaras.

  • Hoje só existem 4 empresas de reciclagem têxtil, numa realidade de 11 828 empresas do sector.

  • Hoje, só existe 1 entidade em Portugal que valoriza pós-consumo, mas os custos são elevados. Uma vez que continua a ser um processo essencialmente manual. A única tecnologia automatizada que existe está na Holanda. E para termos escala é necessário desenhar os produtos de outra forma.

E no Futuro?

As entidades públicas e privadas estão-se a organizar para criar uma entidade reguladora de forma ativar o quarto contentor de resíduo - têxtil. Em 2025, a recolha seletiva do têxtil passará a ser obrigatória na União Europeia. Estão prontos?

Um agradecimento especial à Silvia Gomes da Costa, Vereadora do Ambiente e Inteligência Urbana por esta oportunidade e aos meus convidados, Alexandre Nardin e Manuel Machado, com quem tanto aprendi.

Joana

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