O Design Circular Vai Dar Descontos!
Se tens um marca de moda ou trabalhas na área dos têxteis este é o artigo mais importante do ano. A União Europeia está a lançar uma mudança GIGANTE: a Responsabilidade Alargada do Produtor (RAP) para os têxteis.
Já não é um "se", é um "quando". Prepara-te, porque a circularidade é obrigatória e março de 2028 é o prazo final para os esquemas estarem a funcionar! É literalmente amanhã no tempo da legislação europeia.
Este artigo explica-te como a ecomodulação da RAP transformará os negócios moda para sempre.
O Grande Game Changer: Foco no Design e a Luta Contra o Resíduo Têxtil.
Este RAP é diferente de tudo o que já vimos, como o das embalagens. O objetivo da UE para 2030 não é apenas atirar mais roupa para a reciclagem, mas sim que a roupa seja durável, reparável e reciclável.
O sistema quer atacar o problema na raiz e o seu foco é a priorização da hierarquia de resíduos.
O Escândalo do "Falso Vestuário"
Aqui está o ponto fulcral: as novas regras querem acabar com a hipocrisia na exportação de têxteis. A legislação visa travar a exportação disfarçada de resíduos.
A Crítica: Atualmente, toneladas de têxteis de baixa qualidade são enviadas para países no Sul Global sob o pretexto de serem roupa em segunda mão (o "falso vestuário"). Na realidade, acabam por ser lixo que os países recetores não têm capacidade para gerir, transformando-se em aterros ambientais.
A Solução da RAP: A legislação prevê a reclassificação de têxteis 'reutilizáveis' para impedir esta prática e garante que os têxteis estarão sujeitos a triagem para o tratamento correto.
Além disso, a UE quer acabar com a destruição de stock novo e não vendido, sendo essa prática proibida.
A Destruição de Stock: O Fim do Desperdício
Este ano assistir à destruição de vestuário não vendido por grandes grupos, e infelizmente, é uma realidade e é assustadora. A má gestão de stock (ou inventário) não é só um problema ético, é um problema financeiro gigantesco.
A Realidade dos Números (BoF/McKinsey)
O Report The State of Fashion 2026 confirma que a gestão de stock é um dos aspetos mais pressionados do modelo de negócio. O tempo médio que as empresas detêm o stock antes de o vender (Days Inventory Outstanding) subiu de 147 para 168 dias em 2024. Isto significa que as empresas estão com mais dinheiro parado em armazéns do que nunca!
A Nova Lei é a Solução!
O Regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis (ESPR) e a Diretiva-Quadro de Resíduos procuram eliminar a destruição de valor e de recursos:
Proibição: A destruição de têxteis não vendidos (vestuário e calçado) é proibida.
Priorizar: As marcas são forçadas a pensar de forma inteligente: se não podem destruir o stock, têm de o escoar através de reutilização e reparação (a famosa hierarquia de resíduos).
O Incentivo Tecnológico: Para evitar este stock obsoleto, a solução passa pela tecnologia. O report BoF aponta para a adoção de Inteligência Artificial (IA) no planeamento e estratégias (on-demand) para que as marcas produzam exatamente o que o consumidor quer.
Taxas de RAP e Eco-modulação (Pagas Menos se Fores Bom)
O dinheiro vem das taxas de RAP , que cobrem 100% dos custos reais de gestão daquele produto, desde a recolha à reciclagem e reparação.
O game changer é a Ecomodulação: se o teu produto for fixe (durável ou feito com fibras recicladas), a tua taxa de RAP é mais baixa. É o incentivo para fazer design melhor desde o início.
Um Exemplo: No RAP Frances, se a marca integrar 50% de fibras recicladas pós-consumo, pode receber um desconto de 50% nas taxas de RAP.
Do lado Oposto: Se o produto for difícil de reciclar ou pouco durável, pagas uma penalidade.
Ah, e uma boa notícia para os mais pequenos: as microempresas (aquelas com menos de 10 trabalhadores ou €2M de faturação ) têm um ano de bónus para começar a cumprir as regras.
Em resumo, o Regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis (ESPR) e a Diretiva-Quadro de Resíduos procuram eliminar: a destruição de valor e de recursos que resulta da má gestão de stock na era do ultra fast fashion. A partir de agora, as marcas são obrigadas a encontrar soluções circulares.
Joana